Adubação Verde
Os benefícios das plantas que melhoram o solo: elas adicionam nutrientes, protegem da erosão e reduzem a compactação.
O milho foi plantado pelo benefício que pode trazer à terra: ele produz grande quantidade de massa verde, que pode ser incorporada, enriquecendo o terreno.
Já o feijão-de-porco não só acrescenta matéria orgânica com sua massa. Suas raízes trabalham no subterrâneo, reduzindo a compactação do solo.
Crotalária e feijão-de-porco são nomes ainda pouco familiares para muitos agricultores brasileiros. Assim como o labe-labe, a mucuna anã, a ervilhaca, a aveia preta e as muitas outras integrantes da relação de plantas que são úteis menos pelas colheitas que dão do que pelo trabalho que executam no solo, melhorando-o. Conhecidas como adubos verdes, elas vêm tendo seus benefícios estudados há muito tempo, séculos atrás, em todo o mundo.
Na maior parte, são da família das leguminosas, que têm em comum a virtude de retirar o nitrogênio do ambiente, através da ação de uma bactéria, o rizóbio, capaz de fixar esse elemento em nódulos formados na raiz da planta. Mas o elenco das plantas melhoradoras do solo não se restringe a uma família. Cabem nele gramíneas, como a aveia preta e o azevém, crucíferas, como o nabo forrageiro, e ainda outras.
As raízes de plantas como o guandu e o feijão-de-porco fazem uma eficiente guerra subterrânea contra a compactação do solo.
Em apenas três meses, a raiz do guandu chega a 3 metros de profundidade, rompendo no caminho as camadas compactadas, afirma Miyasaka.
Quando a planta morre, os furos abertos pelas raízes tornam-se poros para levar oxigênio a camadas mais profundas. A massa verde das plantas, deixada no solo como cobertura morta ou incorporada, ajuda a manter a umidade e a amenizar a temperatura do solo.
A relação dos benefícios dos adubos verdes vai mais longe.
Seu cultivo mantém no solo, em torno de suas raízes, uma população numerosa de microorganismos ativíssimos na busca de alimentos, o que acaba contribuindo para a assimilação de nutrientes pela planta.
Algumas espécies, como a mucuna anã, a ervilha forrageira e a crotalária, se destacam pela rapidez com que crescem e dominam o terreno, impedindo o florescimento de ervas invasoras.
Outras combatem a infestação de plantas daninhas com suas propriedades alelopáticas, exercendo uma espécie de inibição química sobre o avanço de invasoras.
O feijão-de-porco e a mucuna, por exemplo, afastam o perigo da tiririca, e onde há o azevém não cresce a guanxuma.
Já o guandu tem uma qualidade valiosa: ele libera ácidos piscídicos, capazes de tornar solúvel, e aproveitável pelas plantas, o fósforo existente no solo que, em condições normais, as raízes não conseguem absorver.
Além desses benefícios para a terra, quase todos os adubos verdes podem ser usados na alimentação de animais, bovinos principalmente.
Os que conhecem as virtudes dessas plantas usam geralmente o inverno, quando há menos alternativas de exploração de lavouras comerciais, para semeá-Ias.
“Em vez de deixar a terra desocupada no inverno, é muito melhor deixar a natureza fazer seu bom trabalho”, afirma Miyasaka.
Há oito anos, Fernando Torre, produtor de hortaliças em Ibiúna, no cinturão verde de São Paulo, reserva a cada inverno uma área entre os canteiros de verduras para a adubação verde. Por anos seguidos plantou a aveia preta, que neste inverno substituiu pela ervilhaca.
Extremamente atento à qualidade do solo, notou, com o passar do tempo, a diferença entre a área onde fazia a rotação de culturas e plantava a aveia e outra, arrendada, ocupada ininterruptamente pelas verduras.
“Onde houve a incorporação da aveia passei a usar menos água na irrigação e a gastar cerca da metade do adubo aplicado na outra área”, afirma.
Ervilhaca e aveia preta, adubos verdes muito utilizados no inverno no Sul do país, não agüentam, porém, as temperaturas altas de regiões como o interior de São Paulo, os cerrados mineiro e goiano.
Onde o inverno é quente é preciso recorrer a outras plantas, apropriadas para o clima tropical.
Uma boa solução para utilizá-Ias, segundo Miyasaka, é plantá-Ias quase no fim do verão, no meio da cultura comercial, principalmente se for o milho.
A mucuna preta, o labe-labe e o guandu, por exemplo, podem ser plantados em fevereiro, quando o milharal está em fase de florescimento.
As plantas crescem devagar até a colheita do milho, e depois ocupam o terreno.
Já estarão com raízes desenvolvidas em junho, quando as chuvas começam a escassear, e poderão manter o solo coberto por todo o inverno até o novo plantio.
A adubação verde, porém, não é uma exclusividade do inverno.
Como no verão o produtor dificilmente abre mão de ocupar toda sua área com as culturas comerciais, a solução pode ser a consorciação.
Entre as leguminosas de clima tropical existem algumas apropriadas para o plantio em conjunto com outras lavouras.
A mucuna anã e o feijão-de-porco, por exemplo, podem ser plantados em outubro, nas entrelinhas do milharal, e desenvolver-se sem prejudicar a cultura comercial.
A mucuna anã, que tem um crescimento menos agressivo que as espécies cinza e preta, se dá bem na companhia de culturas variadas, seja o milho, verduras como alface e repolho e outros hortigranjeiros como o tomate, e culturas perenes.
Para todas é uma companheira exemplar: em vez de fazer concorrência, ajuda a outra a crescer e ainda melhora o terreno para a lavoura que virá depois.
Fonte: http://sitiocurupira.wordpress.com/adubacao-verde/